Oito policiais são presos por suspeita de participação na onda de crimes em Londrina 17/05/2016 - 14:20

Oito policiais militares foram presos e outros seis conduzidos coercitivamente (quando são levados para prestar depoimento na delegacia), nesta sexta-feira (13), suspeitos de envolvimento na onda de assassinatos ocorrida na noite do dia 29 de janeiro e madrugada do dia 30 de janeiro em Londrina, quando 17 pessoas morreram e 20 ficaram feridas na cidade.

Também foi cumprido um mandado de prisão contra um homem envolvido nos crimes. Nas buscas foram apreendidas armas funcionais dos policiais, além de outras cinco armas, munição e cápsulas deflagradas – que agora serão encaminhados para exame pericial. Computadores e celulares também foram apreendidos.

Dois dos oito policiais presos foram indiciados por porte de munição ilegal, pagaram fiança e foram liberados. Os envolvidos serão indiciados por homicídio qualificado e fraude processual.

“Não temos a menor satisfação em prender policiais. Cada prisão de policial gera uma cicatriz na segurança pública como um todo. Os nossos policiais, todos os dias, põem suas vidas em risco para defender a sociedade, em confrontos legítimos. Somente corrigindo os erros que acontecem podemos justificar e dar apoio aos bons policiais. Estamos cumprindo nosso papel e nosso dever de apurar o ocorrido perante a sociedade”, declarou o secretário da Segurança Pública e Administração Penitenciária, Wagner Mesquita.

O secretário também justificou o tempo decorrido entre os crimes e as prisões. “Entendemos o anseio da população, mas o tempo da investigação sempre será o tempo suficiente e necessário para se ter provas concretas, técnicas e que deem respaldo para se proceder uma atividade de condução coercitiva ou mandado de prisão”, afirmou.

Foram coletadas provas de vídeo, áudio e periciais. “São provas contundentes de participação dos indivíduos presos hoje. Também serão feitos novos confrontos balísticos a partir das armas apreendidas na ação desta sexta-feira”, acrescentou Mesquita.

COMPLEXIDADE DAS INVESTIGAÇÕES – A série de crimes começou após a morte do policial militar Cristiano Bottino, no dia 29 de janeiro. Imediatamente após as mortes, a Secretaria da Segurança Pública determinou uma força-tarefa com duas fases. A primeira, ostensiva, com o envio de equipes das polícias Militar e Civil para reforçar a segurança na cidade. Neste período, o número de pessoas presas cresceu 41%, houve aumento de 63% na apreensão de armas e 44% mais carros foram recuperados. Houve redução de 43% no índice de roubos.

Paralelamente, outra etapa reuniu policiais civis e militares e da Corregedoria da PM, para apurar com rigor a onda de mortes. A investigação mostrou que após o assassinato do policial militar, uma série de crimes foi cometida em sequência com participação dos policiais militares presos nesta operação. Algumas dessas vítimas tinham passagem pela polícia por pequenos delitos.

Embora ainda não se consiga apontar a autoria dos disparos contra as vítimas, os policiais militares investigados são suspeitos também de alterar os locais de crimes recolhendo, por exemplo, as cápsulas disparadas e imagens de câmeras – provas que poderiam auxiliar na identificação dos criminosos. “Esta investigação foi e está sendo bastante complexa, por ausência de indícios em locais de crime, de subtração de material que lá deveria estar, e pelo temor de testemunhas em auxiliar a polícia na elucidação. É importante destacar que tivemos um fundamental apoio da Corregedoria da PM desde os primeiros momentos, quando foram percebidas as irregularidades”, apontou o delegado-geral da Polícia Civil, Julio Reis.

A investigação apontou ainda fortes indícios de falsos confrontos nos quais os policiais militares, hoje detidos, teriam participado. “Em 12 de março, após o comunicado de um confronto ocorrido entre PM e o autor de furtos em chácaras, na zona norte da cidade, foi constatado que a arma que supostamente o indivíduo usou teria sido plantada por aquela equipe policial que foi atender o local”, acrescentou o delegado-geral.

Após exames de balística feitos pela Polícia Científica nas armas apreendidas durante o trabalho de investigação, constatou-se que alguns dos armamentos foram usados na noite dos crimes, mas também em supostos confrontos posteriores em que os policiais presos se envolveram. “O Laboratório de Balística Forense realizou mais de 1.700 confrontos e análises entre os 37 estojos e 48 projéteis que foram encaminhados ao longo da investigação”, disse o diretor-geral da Polícia Científica, Hemerson Bertassoni.

Todo o procedimento investigatório foi acompanhado de perto pelo Ministério Público. “O MP destaca que houve participação efetiva da instituição no acompanhamento das investigações e diálogo muito grande com a polícia para que se pudesse produzir provas de qualidade, tanto para se elucidar a autoria quanto para se resguardar os direitos individuais daqueles que estivessem envolvidos”, acrescentou o promotor Ricardo Alves Domingues.

SANÇÕES ADMINISTRATIVAS – A Polícia Militar está instaurando processos administrativos contra os profissionais da corporação envolvidos no caso. “Não existe nenhuma condescendência em relação a atos que não sejam pautados pela atuação legítima daquilo que nossos policiais se propõem a fazer, que é a proteção à sociedade”, declarou o comandante-geral da PM, coronel Maurício Tortato.

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