"Operação Ressurreição" prende 12 e desarticula quadrilha suspeita de fraudar seguro DPVAT e rodízio de funerárias em Curitiba 27/04/2016 - 16:15

Doze pessoas foram presas na manhã desta terça-feira (26) durante a “Operação Ressurreição”, deflagrada para desarticular uma quadrilha suspeita de aplicar golpes para obter o seguro DPVAT (Danos Pessoais Causados por Veículos Automotores de Vias Terrestres) e driblar o rodízio de empresas funerárias em Curitiba. Entre os presos estão donos de funerárias, motoristas do Instituto Médico Legal (IML) e empresários. As pessoas detidas serão indiciadas pelos crimes de associação criminosa, corrupção ativa, corrupção passiva, estelionato e falsidade ideológica.

Além deles, um médico da Unidade de Pronto Atendimento (UPA) de Colombo, um advogado e um gerente de banco foram alvos de mandados de condução coercitiva (quando a pessoa é levada para depor na delegacia).

Em 14 mandados de busca e apreensão, além de vasta documentação, cinco armas foram apreendidas e mais R$ 4,8 mil. O suspeito Vagner de Souza Ferreira, agente funerário, está foragido. Outro agente funerário, Pedro Buschoski, acabou preso em flagrante, pois durante o mandado de busca, uma arma foi encontrada em seu poder.

A investigação foi conduzida pelo Núcleo de Repressão a Crimes Econômicos (Nurce) e a operação aconteceu em Curitiba, Almirante Tamandaré, Colombo, Pinhais, Piraquara e Ponta Grossa contando com a atuação de 60 policiais.

“Alguns dos suspeitos são funcionários públicos e deveriam zelar pela administração pública. Casos esses servidores sejam concursados, a Sesp vai abrir um procedimento administrativo que pode resultar até na expulsão do servidor. Nossa gestão não vai compactuar com desvios de conduta”, afirmou o secretário da Segurança Pública e Administração Penitenciária (Sesp), Wagner Mesquita.

CRIMES – Os investigados passavam o dia e especialmente a madrugada atrás de corpos de vítimas de acidentes de trânsito ou morte natural, sendo que para isso corrompiam os motoristas do IML, para que estes passassem informações privilegiadas e em tempo real dos óbitos ocorridos na capital, região metropolitana e em Ponta Grossa.

Para cada “corpo”, a quadrilha oferecia R$ 700 aos motoristas do IML. Dos quatro funcionários do Instituto investigados, pelo menos dois deles usam aparelhos celulares em nome dos suspeitos e obviamente pagos por eles, visando facilitar o repasse das informações.

Os dados privilegiados chegavam até a quadrilha também através de socorristas do SIATE – sendo que, por ora na investigação, não há indícios de que estes socorristas receberam dinheiro da quadrilha.

De posse das informações do morto, os integrantes da quadrilha faziam contato com os familiares para obter deles procurações para dar entrada no seguro DPVAT – cujo valor pode chegar até R$ 13,5 mil. Uma pequena parte deste dinheiro era repassada à família dos mortos e o restante ficava com a organização criminosa. A alegação era de que o restante era gasto nas despesas do enterro.

Nos casos de mortes naturais, após ser informada pelos motoristas envolvidos, a quadrilha ligava para o IML se passando por parentes da vítima cancelando atendimento do Instituto. A quadrilha então acionava um médico da UPA de Colombo para atestar o óbito e direcionar o serviço funerário para as empresas ligadas ao esquema. A polícia investiga se o médico, que foi conduzido coercitivamente, era conivente com os criminosos ou se foi uma vítima desta quadrilha.

“Os investigados utilizam todo tipo de artimanha para enganar parentes das vítimas, se aproveitando obviamente do momento de fragilidade que estas se encontram. Nos casos de 'morte natural', inúmeras são as conversas onde eles se passam por Policiais Militares e também por servidores do IML, visando direcionarem o sepultamento para funerárias 'parceiras', onde eles obviamente ganham uma comissão, fraudando documentos para essa finalidade”, explicou o delegado do Nurce, Renato Bastos Figueroa.

Um dos documentos falsificados foi um boletim de ocorrência no qual um dos suspeitos, Luciano Alis Ferreira, tentou fraudar a morte do próprio pai, Luiz Gonzaga Ferreira. Luciano chegou a fazer um Boletim de Ocorrência no dia 25 de fevereiro de 2015 comunicando a morte do pai vítima de atropelamento. Para a surpresa dos investigadores, o “morto” apareceu em uma das conversas interceptadas autorizadas pela Justiça. Luciano diz ao pai: “Vou pedir uns R$ 8 mil, R$ 10 mil agora que está na mão. Não vou nem avisar o Tiago. Vamos só nós dois pai, ganhar uns R$ 4 mil”.

Em outra conversa interceptada com autorização judicial, outro integrante da quadrilha, Marcio Clovis Baldi da Silva, se passa por um oficial do Exército para tentar aplicar o golpe. Ele liga para um familiar de um dos soldados que morreu num grave acidente no dia 19 de janeiro de 2016 na PR-412 em Coroados, próximo à entrada de Guaratuba, no Litoral do Paraná. O golpe não foi consumado porque um oficial do Exército chegou no IML e a quadrilha acabou desistindo.

“Há meses a Polícia Civil investigava essa quadrilha, que fraudava documentos e enganava familiares dos mortos, em um momento extremamente difícil em razão da perda de um familiar, e acabava auferindo lucros enormes. Agora os envolvidos estão presos, vários mandados foram cumpridos e o inquérito deverá ser concluído no prazo legal”, afirmou o delegado-geral da Polícia Civil, Julio Cezar dos Reis.

INVESTIGAÇÃO – O trabalho da polícia começou em julho de 2015 após representantes do IML comunicaram irregularidades na liberação dos corpos de duas pessoas. No caso de Silmara de Campos Ferreira os registros sobre o óbito teriam desaparecido do Instituto, sendo ela enterrada no município da Lapa, através do esquema realizado pela quadrilha.

“Após um mapeamento interno dessas irregularidades por parte da direção do IML e da Polícia Científica a denúncia foi entregue à Polícia Civil, que fez todas as diligências necessárias”, explicou o diretor-geral da Polícia Científica do Paraná, Hemerson Bertassoni Alves.

Outro caso envolve Humberto Guimarães da Silva, declarado morto pelo próprio filho que foi induzido pelos golpistas. O crime não se consumou porque a seguradora desconfiou das informações repassadas.

De acordo com as investigações, os mentores do esquema criminoso eram Marcio Clovis Baldi da Silva, Tiago Alcaide Ferreira e Luciano Alis Ferreira – que contavam com a ajuda dos motoristas do IML, donos de um despachante e de funerárias que funcionavam na região metropolitana de Curitiba. A polícia investiga o suposto envolvimento de um médico da UPA de Colombo, que atestou o óbito de algumas pessoas, de um advogado e de um funcionário de um banco que repassava informações de contas bancárias de terceiros. Os três foram conduzidos coercitivamente para prestar depoimento.

PRISÃO TEMPORÁRIA:

1. MARCIO CLOVIS BALDI DA SILVA

2. GUSTAVO MELLO DA SILVA

3. TIAGO ALCAIDE FERREIRA

4. LUCIANO ALIS FERREIRA

5. LUIZ GONZAGA FERREIRA

6. PEDRO BUSCHOSKI

7. EVANDRO DE MORAES

8. WALDIR JOSE CZYR

9. MARCOS ELPIDIO DE OLIVEIRA

10. JORGE PINTO BARBOSA

11. PEDRO PAULO DE SOUZA LABA

12. SUELI CETRA JANUÁRIO


PERMANECE FORAGIDO:

1. VAGNER DE SOUZA FERREIRA

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