Pesquisadores do Brasil e do mundo apresentam inovações nas Ciências Forenses durante o Interforensics 2021 11/11/2021 - 09:40

Mais de 150 artigos científicos relacionados a novas tecnologias, metodologias, projetos, estudos e análises aplicadas às Ciências Forenses foram apresentadas na terceira edição do InterForensics, entre os dias 02 e 05 de novembro na cidade de Foz do Iguaçu (PR). Ao todo, 153 trabalhos de 19 áreas temáticas foram expostos no evento, avaliados por 63 profissionais. Na última sexta-feira, 17 trabalhos foram premiados pela Academia Brasileira de Ciências Forenses, coordenadora do evento, um deles da Polícia Científica do Paraná. Os cientistas ou estudantes da área tiveram dois dias para apresentar seus trabalhos aos conferencistas e foram avaliados pela banca avaliadora.

A exposição teve o intuito de apresentar as pesquisas e trabalhos desenvolvidos pelos peritos criminais, estudantes de diferentes áreas de atuação, para a troca de expertise entre os profissionais e análise de resultados obtidos por meio dos trabalhos. Com o objetivo de evidenciar a produção científica de dezenas de instituições do Brasil e do exterior, a amostra do InterForensics 2021 demonstrou ainda o quanto os profissionais nacionais despontam com pesquisas relevantes e desafiam a ousadia de criminosos, os quais estão cada vez mais sofisticados para mascarar e dificultar o trabalho da perícia criminal.

Todos os trabalhos foram analisados pela Comissão Científica, composta por especialistas renomados nas Ciências Forenses. Da Polícia Científica do Paraná, dois profissionais integraram a comissão: o Diretor-Geral da instituição, Luiz Rodrigo Grochocki e o diretor do Instituto de Criminalística (IC), Mariano Schaffka Neto.

“A Polícia Científica do Paraná está na vanguarda das ciências forenses, nós temos estimulado os novos arranjos de pesquisa e inovação, nós estamos apresentando alguns trabalhos de referência aqui no InterForensics, temos os laboratórios já bem consolidados e com relevância nacional e internacional, então a Polícia Científica, nesse cenário nacional e mundial, é uma polícia que  desponta como uma das melhores”, avalia Grochocki.

Na visão do Diretor do Instituto Médico Legal, André Ribeiro Langowski, que trouxe três estudos científicos para o InterForensics, o evento superou as expectativas e proporcionou discussões e inovações que serão aproveitadas para aperfeiçoar as Ciências Forenses. “Um congresso como esse nos permite que nós, gestores, observamos o que é feito em um local ou setor, o que ocorre de mais moderno e que podemos incorporar no estado do Paraná, então o InterForensics é um grande momento para que possamos conhecer novas tecnologias, com o objetivo de melhorar ainda mais nosso trabalho pericial”, disse. 

“Hoje não se consegue fazer ciência e perícia sem ter um grande investimento e um forte apoio tecnológico, e a Polícia Científica do Paraná é vanguardista nesse sentido, buscando evoluir cada vez mais por meio de pesquisa científica e por meio dos constantes investimentos do Governo do Estado”, disse o diretor do Instituto de Criminalística do Paraná, Mariano Schaffka.

Nesta edição do InterForensics, a Polícia Científica do Paraná apresentou 18 trabalhos científicos das áreas de Antropologia Forense, Computação Científica, Química Forense, Balística Forense, dentre outros, com propostas para aperfeiçoamento de técnicas e métodos aplicados rotineiramente pelos peritos criminais, bem como formas mais simples e céleres para se obter resultados durante as análises de evidências e vestígios.

As pesquisas paranaenses chamaram a atenção de pesquisadores de diversas instituições e estudiosos de outros estados. Frederico Mamede, assessor forense do Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV), visitou a exposição e entende que os trabalhos científicos são voltados aos serviços forenses oficiais, proporcionando a melhora na resolução de crimes. “Os serviços apresentados possuem estrutura e metodologia para contribuir com a resolução dos casos”, afirma.

O perito criminal Eduardo Mendes Cardoso, da Polícia Federal de Minas Gerais, visitou as exposições paranaenses e se interessou pelas propostas apresentadas pela perita paranaense. “É muito prazeroso ver que a experiência transmitida aqui representa a expertise acumulada das instituições dos estados e da Polícia Federal. Verificamos que a realidade de um estado se reproduz em outros, então a troca de experiências é muito positiva para o crescimento da comunidade científica. Estou muito feliz com o estes trabalhos, pois apresentam inovações importantes para auxiliar a área e trazer novas tecnologias e novas formas de análise que vão nos ajudar no combate às drogas à adulteração de etanol”, afirmou.

EXPOSIÇÃO – Preocupados com a importância de atualizar conhecimento e aprofundar cada vez mais os estudos nas Ciências Forenses, os profissionais da Polícia Científica do Paraná levaram ao InterForensics trabalhos significativos que podem ajudar até mesmo os outros estados a aperfeiçoarem seus métodos. Um deles é da perita criminal Isabella Ferreira Melo, que levou dois trabalhos, um sobre a Determinação da Concentração de Etanol em Amostras de Etanol Combustível por FTIR-ATR (uma metodologia analítica de combustíveis) e outro sobre a Análise do Perfil dos Selos Apreendidos no Estado do Paraná no período de 2014 a 2021.

No primeiro trabalho, a perita detalha o avanço da Polícia Científica do Paraná ao desenvolver um método rápido para análise de etanol, com o intuito de verificar se há adulteração ou não. “Desenvolvemos uma metodologia analítica ao verificar a extrema necessidade de tratar do tema durante a nossa atuação na operação Petróleo Real, desencadeada em julho deste ano pelo Ministério da Justiça e Segurança Pública”, explica.

Peritos de várias regiões do estado atuaram na operação e enviaram amostras ao Laboratório de Química Forense, em Curitiba, auxiliando na pesquisa feita pela perita. “Com essa demanda, desenvolvemos um método exclusivo para o etanol e agora vamos conseguir um novo leque de análises. É uma metodologia simples, mas robusta e que vai resultar em uma maior celeridade nas respostas que precisam ser dadas durante investigações policiais”, disse.

O segundo artigo científico da perita trata sobre a identificação de novas substâncias psicoativas presentes em selos localizados durante operações policiais. Por meio de análises de materiais apreendidos entre 2014 e 2020, a pesquisadora identificou a redução da presença de LSD e a aparição da droga 25I-NBOH, derivada das feniletilaminas. 

“Ao longo dos anos surgiram as novas substâncias resultados de tentativas dos traficantes em causar pequenas alterações a fim de ludibriar a fiscalização. Buscamos incentivar outros estudos pelo Brasil sobre o tema, pois se trata de um assunto delicado e que tem relação com a saúde pública”, explica.

Outro trabalho sobre Química Forense da Polícia Científica do Paraná foi apresentado pelas estagiárias Maria Eduarda Panza Maia e Maria Carolina Correa Santos, denominado Padronização da Metodologia de Identificação de Amostras Vegetais de Cannabis Sativa por Espectrometria de Infravermelho e aborda a questão do tráfico de cocaína no Paraná, focado em verificar as substâncias adulterantes e diluentes da droga, como são comercializadas e o acesso dos traficantes a produtos para a produção da substância psicoativa. 

“Nosso trabalho traça um perfil da cocaína desde 2019 até 2021 no Paraná, a fim de verificar qual região tem adulterante e qual tem sido mais utilizado nos últimos anos. Isso é para ajudar a perícia criminal a encontrar formas para identificar quem são os vendedores, onde eles adquirem as substâncias e, a partir dai, traçar um plano para proteger e evitar que adulterantes e o tráfico de cocaína se fortaleçam”, disse Maria Eduarda.

ANTROPOLOGIA FORENSE – Na área da Antropologia Forense, a Polícia Científica do Paraná levou à exposição do trabalho da perita Luciane Grochocki, sobre a Importância da Preservação e Análise de Vestes na Antropologia Forense. “O objetivo é estabelecer a dinâmica em que ocorreu o crime ou até mesmo a causa da morte por meio desta análise, resultando em um laudo que vai embasar na investigação e a elucidação de um crime”, explica.

Para o InterForensics, a perita levou um caso em que, por meio de um trabalho minucioso das roupas que estavam com uma ossada, foi possível elucidar o crime e o autor foi preso. “Ao verificarmos o material, identificamos rasgaduras nas roupas e na análise dos ossos, constatamos  lesões nas mesmas regiões onde havia as perfurações nas vestes, então conseguimos confirmar que a vítima sofreu feridas múltiplas causadas por um instrumento perfurocortante”, detalhou.

Já o trabalho produzido pela perita Gisele Aparecida do Couto, também da Polícia Científica paranaense, focou em apresentar um panorama nacional da Cadeia de Custódia e a necessidade da criação de diretrizes e a padronização de procedimentos para os peritos criminais, em cumprimento às mudanças na Lei Anticrime, em vigor desde 2020. “A ideia é elevar a discussão sobre o tema, além de lembrar que os peritos precisam acompanhar as mudanças que ocorreram, pois todos os procedimentos podem ser questionados posteriormente numa ação penal e isso coloca em cheque o trabalho feito desde a ponta, no atendimento ao local do crime”, afirmou.

O perito criminal Augusto Pasqualini, por sua vez, falou da pertinência deste tema no atual cenário das Ciências Forenses. “É um trabalho de suma importância porque apresenta um retrato da atual situação da Cadeia de Custódia no Brasil e, a partir disso, conseguimos alimentar nosso banco de dados e determinar algumas diretrizes para trabalhar mais essa questão tão importante no nosso estado”, disse.

DADOS E CONHECIMENTO – O diretor do Instituto Médico Legal (IML), André Ribeiro Langowski, expôs os trabalhos sobre perfil dos trabalhadores que foram a óbito devido a acidentes de trabalho, os aspectos demográficos e médico legais por acidente de trabalho e a Prevalência da presença de álcool e cocaína nas mortes por acidente de trânsito, analisando dados de Curitiba e Região Metropolitana de 2019.

Segundo ele, o objetivo com os trabalhos é fazer levantamentos epidemiológicos para entender o perfil das pessoas que vão a óbito por acidente de trabalho, por arma de fogo, por acidente de trânsito, e a correlação entre acidentes de trânsito e a presença de álcool e de outras drogas. 

“No momento em que estudamos isso, conseguimos clarear essas estatísticas e podemos também auxiliar a Segurança Pública a desenvolver políticas de prevenção e combate a esses problemas relacionados à violência e aos acidentes de trânsito. Toda vez que trabalhos dessa forma, estamos tentando trazer conhecimento, transformar dados em conhecimento, em algo que possa ser até como uma lição e, a partir disso, trilhar um caminho melhor com metas e objetivos”, explicou.

Durante a análise dos dados de acidentes de trânsito, Langowski constatou que foi detectada uma porcentagem de cerca de 35% de álcool nas vítimas fatais de acidentes ocorridos em Curitiba e Região Metropolitana no período de 2019 a 2020. “Esse número pode ser ainda maior porque não coletamos exames toxicológicos em cadáveres que vieram de hospitais. Diante disso, entendemos a magnitude de se fazer mais campanhas de prevenção para evitar o consumo de bebida alcoólica e dirigir, por exemplo”, afirmou.

PRÊMIO – Dos 153 trabalhos científicos submetidos ao InterForensics 2021, 17 foram premiados e aclamados pelos conferencistas nesta sexta-feira. O primeiro lugar geral ficou com a perita criminal federal Aline de Araújo e o perito criminal federal Erick Simões da Câmara e Silva, o segundo colocado foi o perito Rafael Cunha e a terceira colocação com o perito Rafael Canata. 

A participação da Polícia Científica no evento foi coroada com a conquista do prêmio de melhor trabalho científico na categoria Computação Científica, com os estudos do Coordenador do Laboratório de Extração de Dados de Computação Científica paranense, Henrique Galperin, sobre a extração mais aprofundada de dados de dispositivos como celulares, computadores e Hds. 

“Ganhar este prêmio é uma demonstração do bom trabalho que nossa instituição executa, servindo de referência para todo o Brasil. Temos sempre ajudado outras instituições com nosso esforço e é muito gratificante ver que todo o nosso empenho tem gerado bons frutos. Esses trabalhos nos permitem avançar em relação ao que as ferramentas comerciais forenses de extração de dados já disponibilizam, além de divulgar este conhecimento para outras instituições a fim de estimular a produção de novas metodologias nesta área das Ciências Forenses”, destacou o perito. 


Abaixo confira os vencedores em cada temática das Ciências Forenses:

Antropologia Forense – Ana Paula Casadei

Balística Forense – Gabriela Bourguignon

Crimes Ambientais – Vitor Carlos Pereira 

Crimes Cibernéticos – Henrique Galperin, da Polícia Científica do Paraná

Engenharia Legal – Fernando Henrique Lonzetti

Documentoscopia – Luzilene Cazumbá

Genética Forense – Camila da Silva Maciel

Isótopos Forenses – Samara Henrique Maschetti

Medicina Legal – Victor Alexandre Percinio Gianvecchio

Medicina Veterinária Forense – Jackson de Barros Amaral

Microvestígios – Luciana Rodrigues Mendes

Multimídia e Segurança Eletrônica – Pedro Rogério Vilela Ribeiro

Outras áreas forenses – Alessandra Esteves

Química Forense – Carolina da Ros Montes D’Oca

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